60. Crime e Castigo

Essas palavras são testemunhas de que não esqueço...
testemunham em favor de lembranças...
Não porque as tenha para explicar,
os motivos, mas porque ouço o eco
dos seus significados...
Como sei seus segredos? Roubei-os,
enquanto se repetiam,
e estas palavras tem de confessar!

Se torturo as palavras,
Amarradas nos laços dos meus atos,
é porque elas nunca me deixaram esquecer,
e quanto mais as torturo,
mais elas me fazem lembrar. Esqueci?
São lembranças sobre lembranças,
Porque então mantê-las cativas,
se mesmo o nosso silêncio nos comunica?
Porque movemos o tempo entre nós,
nossas intenções explicitas!

Se estas são apenas inocentes,
é porque merecem qualquer castigo que tenham!
Se são culpadas é por se entregarem
para a própria culpa que não deveria
ser cultivada no lugar dos seus significados,
Que deveriam ser superados
para todo o tempo...

Assim, essas palavras são cada letra: uma barra,
das grades de uma cela, da prisão sempre próxima,
de onde vejo um felino sol dourado,
em longos raios oblíquos em poente
rasgando a unha, o mesmo céu virgem
privado do seu sossego,
se esfregando nos cantos das expressões,
mais vulgares,
iluminando-as,
da liberdade de não terem significado...

Vamos, sossega o mundo!
Que animal selvagem nenhum merece castigo,
de crime pior do que nunca ter existido,
e ao se pronunciar, já se inflama
vindo do interior da cela do nada...
e sentencia nosso futuro à inocência
do presente...

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A Lógica é a genética da preguiça de criar, e a criação precisa de intensidade sendo o exercício do impossível imediato, mas, às vezes, porque não sermos um pouco indolentes?

Não 'creio' na Lógica por causa dos Ateus. Os mais consistentes propagadores das leis de Deus.

Mesmo não sendo parnasiano...

“Fuja da abundância estéril desses autores, e não se sobrecarregue com um pormenor inútil. Tudo que dizemos a mais é insípido e degradável; o espírito saciado repele instantaneamente o excesso. Quem não sabe moderar-se jamais soube escrever.”

Nicolas Boileau-Despréaux
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