Para meu Amor (com dedicatória no próprio poema) São tantos clichês que estamos bem servidos; As minhas vírgulas que engoli não me deixaram louco, Mas por pouco, muito pouco. Antes uma vírgula que uma pílula. Se às vezes me engasgo, não acho que seja resistência; Porque me acho fraco ou mudo é que luto; Garganta estreita é que o peito fica cheio de esperança; Fraco ou forte, é em liberdade o ponto em que me encontro, Com o meu Amor é que venço, Sempre. (corrigido poeticamente por meu Amor)
257. Cuidado de si II
Porque tenho que suportar
o peso que ninguém mais suporta?
O que será,
se só posso confessar
isto em delírio?
É esperar de mim
o que não se espera de ninguém mais?
Estarei ou serei louco?
Se estiver ou for
Só aceitarei o diagnóstico de outro,
Por que,
Se você estiver disposto a mim,
eu nunca desmoronarei!
255. Cuidado de si
Eu que sou incompetente
em cuidar de mim
que só sabia pedir favores
a pessoas responsáveis
para poder cuidar dos outros...
Perdido,
Encontrei-me bêbado,
para depois, em busca do álcool
colocá-lo na cabeça
por medo de enlouquecer.
Estive o tempo todo assim...
Como tive tempo para me embebedar?
Minha segurança é,
De quando não fizer mais efeito,
que inventar vícios
é o primeiro talento
daqueles que se encontram sóbrios!
254. Nos bancos das escolas
Adoro a inteligência genuína...
Dessas que dificilmente
(não é que não se faça)
se faz com o achatamento
das bundas nos bancos das escolas...
Se fosse tão comum,
as bundas teriam
a mesma inteligência dos bancos...
252. Emaranhado
Uma gota dissolve o mundo
em todos os seus projetos possíveis
fabrica,
estendendo sobre todo o acaso,
o tempo em série
pela a oposição das densidades...
Fazer uma coisa de cada vez
para ficarmos transbordados
não havendo vestígio de engasgo
com a massa de nossas angústias,
mas tem de ser mais pelos nós que desatamos
que o tecido é o mais compacto...
Que seja mesmo um emaranhado,
pois os nós que não desatamos,
temos de aprender a chamar de laços!
251. Leitura II
A alucinação paira como fumaça insignificante,
por isso é o bastante para vertiginar
aquilo que em nós comunica...
Existe alguma viagem que não é antecedida por alguma expectativa?
Para estas
a fumaça faz existir no somente agora...
251. Leitura
Leio para enredar meus amores táteis nos livros,
ao invés dos cigarros...
Tendo que deles salvá-los,
mas está a antecipação
que escapa de mim antes que a fumaça
do que as cinzas contorce deles letras...
Se é todo o sentimento,
não sei mais se são queimaduras
sinalizadas nos contornos da fumaça,
ou se são as palavras impressas através das membranas
que nos separam dos olhares...
250. Linguagem
A linguagem,
acordo dos imaginários,
fingindo uns para os outros
que entendem-se,
que acordaram
a si próprios,
confortados
por uma pretensa cadência
de suas emergências...
A linguagem finge
e diz a memória
para esquecermos
quando a história
só aponta
para o agora.
249. Persistência da memória
As árvores vivem por tanto tempo
que esquecemos que estão vivas,
construímos em volta de suas folhas
sem ampará-las,
creio que esquecemos que estamos,
apenas,
vivos.
Por sua persistência,
Não temos como conduzir nossas memórias ao lado das árvores.
Não entendemos que
o cair das folhas
deveria ser cura de nossas regras.
246. No rancho da Candoca
Numa janela da sede do rancho,
ela olha a vida enquanto a vida a olha.
Nunca é demais repetir seu nome.
Candoca, dá um aceno para a vida!
245. infiltração
O que aconteceu é que a água
amadurece de tanto ser cultivada
debaixo da terra.
O que acontece é que a água
apodreceu com a infiltração
do nosso trabalho.
242. O medo no ninho
Se as grades voando
pousarem em nossas janelas,
que protejam todos os outros
do que somos em seus ninhos.
Se estamos protegidos
da rapinagem das grades
veremos que
das quatro paredes,
através das janelas
somos as suas jaulas.
O medo é a rapinagem das grades
em nossa essência de janela.
241. Sermão da doença (perguntas frequentes I)
Se a gripe fosse da memória,
seria bastante esquecê-la?
240. Em estado de chuva
Estava
ainda ontem
em estado de chuva
Já não podia mais
encharcar-me
dos seus desejos
amando
dissolvi seus órgãos
nas mais simples trajetórias.
Na vizinhança dos meus órgãos
que não eram labirinto da minha existência
Não seria por aquele
ter se perdido o meu próprio.
239. O tamanho da cura
A presença
"que seja eterna
enquanto dure"
que a saudade
só nos serve de alongar
todas as medidas possíveis do tempo.
Sendo o esquecimento
o justo
impossível
tamanho da cura!