Respondo a quem eu sou com o mistério...
Será o mistério o mesmo sempre?
257. Cuidado de si II
Porque tenho que suportar
o peso que ninguém mais suporta?
O que será,
se só posso confessar
isto em delírio?
É esperar de mim
o que não se espera de ninguém mais?
Estarei ou serei louco?
Se estiver ou for
Só aceitarei o diagnóstico de outro,
Por que,
Se você estiver disposto a mim,
eu nunca desmoronarei!
255. Cuidado de si
Eu que sou incompetente
em cuidar de mim
que só sabia pedir favores
a pessoas responsáveis
para poder cuidar dos outros...
Perdido,
Encontrei-me bêbado,
para depois, em busca do álcool
colocá-lo na cabeça
por medo de enlouquecer.
Estive o tempo todo assim...
Como tive tempo para me embebedar?
Minha segurança é,
De quando não fizer mais efeito,
que inventar vícios
é o primeiro talento
daqueles que se encontram sóbrios!
254. Nos bancos das escolas
Adoro a inteligência genuína...
Dessas que dificilmente
(não é que não se faça)
se faz com o achatamento
das bundas nos bancos das escolas...
Se fosse tão comum,
as bundas teriam
a mesma inteligência dos bancos...
252. Emaranhado
Uma gota dissolve o mundo
em todos os seus projetos possíveis
fabrica,
estendendo sobre todo o acaso,
o tempo em série
pela a oposição das densidades...
Fazer uma coisa de cada vez
para ficarmos transbordados
não havendo vestígio de engasgo
com a massa de nossas angústias,
mas tem de ser mais pelos nós que desatamos
que o tecido é o mais compacto...
Que seja mesmo um emaranhado,
pois os nós que não desatamos,
temos de aprender a chamar de laços!
251. Leitura II
A alucinação paira como fumaça insignificante,
por isso é o bastante para vertiginar
aquilo que em nós comunica...
Existe alguma viagem que não é antecedida por alguma expectativa?
Para estas
a fumaça faz existir no somente agora...
251. Leitura
Leio para enredar meus amores táteis nos livros,
ao invés dos cigarros...
Tendo que deles salvá-los,
mas está a antecipação
que escapa de mim antes que a fumaça
do que as cinzas contorce deles letras...
Se é todo o sentimento,
não sei mais se são queimaduras
sinalizadas nos contornos da fumaça,
ou se são as palavras impressas através das membranas
que nos separam dos olhares...
250. Linguagem
A linguagem,
acordo dos imaginários,
fingindo uns para os outros
que entendem-se,
que acordaram
a si próprios,
confortados
por uma pretensa cadência
de suas emergências...
A linguagem finge
e diz a memória
para esquecermos
quando a história
só aponta
para o agora.
249. Persistência da memória
As árvores vivem por tanto tempo
que esquecemos que estão vivas,
construímos em volta de suas folhas
sem ampará-las,
creio que esquecemos que estamos,
apenas,
vivos.
Por sua persistência,
Não temos como conduzir nossas memórias ao lado das árvores.
Não entendemos que
o cair das folhas
deveria ser cura de nossas regras.
246. No rancho da Candoca
Numa janela da sede do rancho,
ela olha a vida enquanto a vida a olha.
Nunca é demais repetir seu nome.
Candoca, dá um aceno para a vida!
245. infiltração
O que aconteceu é que a água
amadurece de tanto ser cultivada
debaixo da terra.
O que acontece é que a água
apodreceu com a infiltração
do nosso trabalho.