Se telepatia resolvesse,
mas a expectativa de comunicação
atrapalha tudo mais...
Presente (À Felipe Lobo) por Joana Guerra
O que posso te dar,
Que não me cobre, não gaste cobre, não olhe e cobre?
O que posso te dar,
Se não horas em sebos, livros de cheiros, e Coca?
O que posso te dar,
Se não poemas?
Pôr-do-sol,
Conselhos e chá...
O que posso te dar que não se configura?
Não se formata?
Sem figura, fotografia e adeus.
O que posso eu te dar,
Que me julgue satisfeita?
A-M-I-Z-A-D-E.
Num copo cheio de dias.
187. O jardim
Só no momento,
só de encontrar
a sua solidão
nas ausências
que no nosso jardim
não florescem,
mas tem por enfeites.
201. O passeio
Para quê tantas pernas
em tão poucos lugares?
Se andamos por aqui feito as tropas
Porque não fazermos as guerras bem feitas
costuradas as pernas?
Ah, as pernas amantes continuam por aí!
Seguem, entre o mesmo passo
costuradas ao longo de si.
200. Misantropia
Não são semideuses,
Somos nós humanos mesmo,
Potes cheios de vaidade...
Talvez,
algumas vezes esquecendo,
apesar de umas habilidades mixurucas
pintadas nas bordas,
somos lá os mesmos velhos mortais.
...porque errar não é questão de modéstia,
mas de 'jogo de cintura'!
Semideuses?
Por todo esse tempo,
Antes fossemos,
ao menos
teríamos superpoderes de passar o tempo!
199. Carrinho de rolemã
Um menino brinca
em carrinho de rolemã,
Para o passado do adulto
é a caricatura que mais aproxima o futuro
Para a criança apenas
um pequeno comprometimento
e a natureza reaprende a ser brinquedo
para ralar-se no seu indizível.
Para mim,
já velho,
vou admitindo,
sei lá como descrever esse momento.