14. Rosas nuas

Rosas nuas na cidade,
noturnas.
Noites assediadas.
As fachadas de pétalas desmoronaram
concreto desbotado.
Das fortalezas
da luz do sol,
na mesma cor partida,
Em todo o espectro do momento,
Através da íris do firmamento

Em muros que não sabem falar,

às vozes vazias que falam na imaginação,
Que vazias não são mudas e também não sabem calar,
São inscrições sobre inscrições.

Por isso, quem poderá,
pelas avenidas,
com tuas vergonhas
rasgadas entre os dentes,
sendo flores de asfalto quente
em seus becos, delírios e vícios...
Para antes,
Do que já fomos nas cidades...

170. Crônica do Juízo Final III

O destino de qualquer relíquia
deveria ser dividida
em muitas partes,
neste lugar que não podemos
na repetição
por falta de outros nomes
para se reinventar
à semelhança
de um Deus literatura
forçados,
na sua ira, que ordena a morte das horas
ao chamarmos de memória
porque, não que a democracia
seja o destino dos destinos,
mas que a hegemonia veiculada dos autocratas
será, no futuro das inscrições,
das paredes de pedra,
'burocraticamente' questionada
pelos nacionalistas
através da cultura de massa.
Assim se impõe
a verdade na democracia:
as diferenças conquistadas,
que nunca foram sementes,
teriam antes de ser
frondosas árvores.

181. Uma essência de rosa

Como será uma rosa arrancadas todas suas pétalas?
Não estou certo que seria rosa desvestida,
com cada, entre tantas, pétalas sonhadas
quantos foram, todos, os ventos,
soprados independentes de suas direções,
trouxeram-na nova toda vez que passaram,
a mesma.
Pétalas invisíveis?
Não são espírito,
não se vestem,
mas se peles assim ventadas do desatino.
Rosas em coincidência
de cores,
não são estas as suas diferenças?
Seriam delírios de diferentes modos de despir,
encontradas, em todas,
a mesma Rosa Nua?

169. Crônica do Juízo Final II (de Nietszche a Foucault)

Lá, no canto da moral
para além de um humano,
por deus que seja,
são sempre extrassexuados,
não restando
que seus sexos
sejam para fora
como todos os masculinos
não somente os machos,
que são sem a única interioridade,
sem o Ser que os tange,
Nem a Razão em um vir-a-ser,
servindo de lastro,
para ao ser deslocado,
de um sexo ao outro,
abandonar a loucura.
A construção desrazoada é a que se permite
teve o Livre Arbítrio determinado
por um Deus,
é o que se permite,
desde que por indução
não se ponha em primeiro lugar.
Se for o caso,
que não é de direito,
que se chame humanitarismo e
seja de presente um humanismo.

168. Crônica do Juízo Final I (para Nietzsche, com carinho)




Como,
apesar de tão reconhecida onipresença,
durante o Juízo Final,
Serão os seus templos costumeiros,
lares declarados,
então,
se não estiver encerrado neles,
também não estarei,
necessariamente,
blasfemando.
Serei, mutatis mutandis, bem-vindo.

102. Do gênero da esfinge II

“Por que fazer poesia?”
Para esquecer-me em minha superfície!
Talvez melhor, dentro de mim
enquanto desfizer o dentro.
O que está mais bem guardado,
que o esquecido? O desfeito.
Desfazer uma trilha para esse lugar,
Para o 'deslugar' esquecido.
Pela desvia do cordão umbilical,
o 'deslugarejo' resguardado da vida,
onde todos nascem
tantas vezes,
quantos são seus descendentes
por toda mulher ser mãe
da gravidez de sua filha.

160. Com as mãos no chão

Há pluviometria em não saber a distinção nas identidades das chuvas? Se chuva tivesse humor, não se diria ácida, no máximo molhada. De muito menos serviria uma psicologia dos imortais, se a natureza tudo envolve sem impor o princípio e a existinção, a existência continua espontânea. Posso ainda menos dizer do tempo, apenas que é invenção, ou o que diremos da capacidade de inventar? Uma invenção? Se valorizo demasiadamente qualquer saber natural é porque creio que para andar tive de tocar as mãos no chão.

161. Grávido VII



Olho,
inadvertido,
para o lugar no universo
que, em gravitação,
meus olhos cadentes podem me levar.

Sou amante fugaz do brilho de uma estrela,
mesmo sendo cadente.
E dela, sabendo que também não é eterna?
Sou e serei, tão intensamente,
desde o rastro que sou,
um cometa,
até encontrá-la no fim da direção,
para explodir 'gravidamente',
descomunal que fora universo,
mas, apenas, proporcional,
nunca infinito.

Serei todo pó da nebulosa e barriga materna
para unir-me novamente
ao que foi durante supernova,
para ser,
dentro do mesmo que sou e fui
seus,
todos amados,
inumeráveis,
não identificados filhos.
Porque,
formam a vida
que é a realização de uma estrela
para um astro,
salvo da deriva espacial.

Da distância, que também não é infinita,
em partícula não rarefeita
que se teve por estrela
é que se faz a gravidade,
a matéria da gravidez,
na forma do planeta, do satélite...
todo espaço que é em seu redor
para eclipsar descuidadamente
através de nebulosas
que se estenderam, ovuladas, ejaculadas
para, por último,
tomar toda a atenção
como faixo de luz.

Mesmo assim,
Se a estrela me escolheu,
Serei parido do meu destino
para, até ela, chegar?
Ao alcance da luz, digo que sim,
Se for através de seu singular brilho,
Estrela coração pulsante
Apontando do firmamento,
para todos os planetas desvalidos.

Serei fiel aos abandonados e perdidos sem estrelas.

A Lógica é a genética da preguiça de criar, e a criação precisa de intensidade sendo o exercício do impossível imediato, mas, às vezes, porque não sermos um pouco indolentes?

Não 'creio' na Lógica por causa dos Ateus. Os mais consistentes propagadores das leis de Deus.

Mesmo não sendo parnasiano...

“Fuja da abundância estéril desses autores, e não se sobrecarregue com um pormenor inútil. Tudo que dizemos a mais é insípido e degradável; o espírito saciado repele instantaneamente o excesso. Quem não sabe moderar-se jamais soube escrever.”

Nicolas Boileau-Despréaux
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