152. Quando as máquinas param I (o cotidiano)

Quando as máquinas param,
enquanto as horas improvisam
e falham.
Os pecados rolam imaginação
das novelas televisivas
de um lado para o outro da cama,
da cabeceira solitária,
mirantes em arranha-céus,
de sonhos sempre em construção.

Para alcançar todas as imagens
dos santos pré-moldados e padroeiros,
nos seus sincretismos
há bastante inferno,
no terço, na imaginação,
enroscada nos peitos das freiras.

Nas repartições, no desemprego,
a minha autarquia
é algo beirando a luxúria
e a ira apreendida no contrabando,
decoração das barracas das feiras,
através de apertos de mão falsificados,
por denuncias de investigadores profissionais,
ironicamente,
por força dos mandatos de busca e apreensão
cheirando a uísque clandestino.

Na partilha dos pequenos detalhes,
alguns ainda hão de te julgar.

Entre uma partida e a consagração no campeonato,
as bandeiras violentas ao sabor do gás pimenta,
o instante lacrimogêneo da consciência neon,
das torcidas que se mexem
em ondas de suor e cerveja quente
para fábricas cotidianamente desconcertantes.

A Legião Estrangeira nos ensina
que as fronteiras dos nossos corpos
são para os que não deixaram
as nossas queridas liberdades,
sem preço de resgate,
ainda que bastem, mas não tardam,
na doçura cientificamente comprovada
dos nossos soberanos dedos indicadores,
entre hábeis polegares,
ou na sapiência deduzida dos impostos.
Que hoje em dia, os governos,
tanto quanto as igrejas,
já aceitam recado para encomenda
de peças para apocalípticos
maquinários do juízo final.

É preciso, ao serem aceitos os
alvarás para as reformas dos sorrisos,
nas prefeituras, ter em mente a eficiência total,
ser integro, digno e ter muita paciência
para respeitar a propriedade
definida em polegadas, braças e pés
para que permaneça
eternamente deitada em berço esplendido,
sem nunca corresponder
ao nosso verdadeiro amor.
Aquela que deixei dormindo
porque me disseram que
se eu estiver por muito tempo fingindo
chefiar todos na nossa casa,
é preciso ao menos velar
o sono e a fome dos que,
por não serem batizados por sua revolta,
nunca irão acordar.

1 comentários:

Felipe Lobo dos Santos 17 de agosto de 2009 às 22:24  

Existem dois temas próximos: O Large Hadron Collider (acelerador de partículas) apelidado de “máquina do fim do mundo”, com algum sensacionalismo, e a "Destruição Mútua Assegurada — tradução do inglês Mutual Assured Destruction, abreviado MAD (loucura) — [que] é uma doutrina de estratégia militar onde o uso maciço de armas nucleares por um dos lados iria efetivamente resultar na destruição de ambos, atacante e defensor. É baseada na teoria da intimidação, através da qual o desenvolvimento de armas cada vez mais poderosas é essencial para impedir que o inimigo use as mesmas armas." (fonte: Wikipédia)

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A Lógica é a genética da preguiça de criar, e a criação precisa de intensidade sendo o exercício do impossível imediato, mas, às vezes, porque não sermos um pouco indolentes?

Não 'creio' na Lógica por causa dos Ateus. Os mais consistentes propagadores das leis de Deus.

Mesmo não sendo parnasiano...

“Fuja da abundância estéril desses autores, e não se sobrecarregue com um pormenor inútil. Tudo que dizemos a mais é insípido e degradável; o espírito saciado repele instantaneamente o excesso. Quem não sabe moderar-se jamais soube escrever.”

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