137. Solar do Unhão III

Se a maré, sob o véu da “Senhora dos afogados”, enchia acima da medida das cabeças dos escravos do porão, é porque sendo esfriado o barro de seus corpos do calor que é toda a herança permitida de seus ancestrais, tinham as almas fundidas. De onde antes, na cabeça de seus senhores, só havia molde e brutalidade, emerge a matéria que serve nas missas, nos batismos e ainda havendo sido usada de liga na imagem do padroeiro, exibida nas procissões que partem da capela do Solar. Daí suas almas serão, enquanto durar a colônia, as prisões de seus corpos.

5 comentários:

Felipe Lobo dos Santos 26 de julho de 2009 às 10:50  

"O homem de que nos falam e que nos convidam a liberar já é em si mesmo o efeito de uma sujeição bem mais profunda que ele. Uma 'alma' o habita e o leva à existência, que é ela mesma uma peça no domínio exercido pelo poder sobre o corpo. A alma, efeito e instrumento de uma anatomia política; a alma, prisão do corpo." (Michel Foucault em Vigiar e Punir, cap. 2 - O corpo dos condenados)

Felipe Lobo dos Santos 26 de julho de 2009 às 10:54  

Inclui: Daí suas almas serão, enquanto durar a colônia, as prisões de seus corpos.

Felipe Lobo dos Santos 26 de julho de 2009 às 11:10  
Este comentário foi removido pelo autor.
Felipe Lobo dos Santos 26 de julho de 2009 às 11:17  

A procissão insinua o fetiche pelo corpo morto e das almas que dele surgem como o próprio ideal de Santo e na mesma magnitude deste fetiche com toda a cerimômia.

Felipe Lobo dos Santos 17 de agosto de 2009 às 22:44  

Este texto remete aos muitos mortos nos porões, das galerias da antiga alfândega, durante o período 'ilegal do tráfico' de escravos.

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A Lógica é a genética da preguiça de criar, e a criação precisa de intensidade sendo o exercício do impossível imediato, mas, às vezes, porque não sermos um pouco indolentes?

Não 'creio' na Lógica por causa dos Ateus. Os mais consistentes propagadores das leis de Deus.

Mesmo não sendo parnasiano...

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