127. Parte podre

Vou com o sabão
ao enxaguar as roupas,
sepultado no esgoto.
Nunca deixe ninguém lavar suas roupas,
pois, você é que deve enterrar seus cadáveres,
muitas vezes, nos seus lugares de morada,
deixando, ao morrer, muito pouco,
de um só corpo para a sua cidade natal.
Outra vez, quem eu sou,
ao ser recortado dos dedos,
junto-me novamente aos cabelos,
e com a poeira,
tenho, portanto, um corpo,
que ao pó não voltou,
é mesmo o próprio.
Se tudo que está fora de mim e me invade,
é excreção, então vale destas,
o meu eu mais querido, a 'puesia',
que se fez da mistura de palavras
com a mais fétida bosta,
sendo a nossa podridão o que mais
afeta aos outros.
Não só do homem, também da natureza,
todos os sabores e cheiros se tornam,
que é, em toda vida, o fim do tempo,
porque ainda tenho tanto pudor?
Boa parte de mim
são destes tantos
que não constatam a falta
e, se sentem, não se assemelham às saudades.
Esta que é, para os que ficam,
a minha parte mais podre,
por ser somente uma parte.

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A Lógica é a genética da preguiça de criar, e a criação precisa de intensidade sendo o exercício do impossível imediato, mas, às vezes, porque não sermos um pouco indolentes?

Não 'creio' na Lógica por causa dos Ateus. Os mais consistentes propagadores das leis de Deus.

Mesmo não sendo parnasiano...

“Fuja da abundância estéril desses autores, e não se sobrecarregue com um pormenor inútil. Tudo que dizemos a mais é insípido e degradável; o espírito saciado repele instantaneamente o excesso. Quem não sabe moderar-se jamais soube escrever.”

Nicolas Boileau-Despréaux
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