Vou com o sabão
ao enxaguar as roupas,
sepultado no esgoto.
Nunca deixe ninguém lavar suas roupas,
pois, você é que deve enterrar seus cadáveres,
muitas vezes, nos seus lugares de morada,
deixando, ao morrer, muito pouco,
de um só corpo para a sua cidade natal.
Outra vez, quem eu sou,
ao ser recortado dos dedos,
junto-me novamente aos cabelos,
e com a poeira,
tenho, portanto, um corpo,
que ao pó não voltou,
é mesmo o próprio.
Se tudo que está fora de mim e me invade,
é excreção, então vale destas,
o meu eu mais querido, a 'puesia',
que se fez da mistura de palavras
com a mais fétida bosta,
sendo a nossa podridão o que mais
afeta aos outros.
Não só do homem, também da natureza,
todos os sabores e cheiros se tornam,
que é, em toda vida, o fim do tempo,
porque ainda tenho tanto pudor?
Boa parte de mim
são destes tantos
que não constatam a falta
e, se sentem, não se assemelham às saudades.
Esta que é, para os que ficam,
a minha parte mais podre,
por ser somente uma parte.
127. Parte podre
quinta-feira, 30 de julho de 2009
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