117. Poesia de partida

Logo que,
a penúltima pessoa sair
de casa,
a última deixará de existir
consigo,
Que não existe nem sozinho.
Sendo que, a saudade
não mais coincidirá com a dor
será esta a cura da primeira.
Se o tempo cura a dor,
que se cure o tempo!
que a saída do último é inevitável.
E o que dizer ao primeiro,
ao refletir sobre este momento:
que volte com por sua vontade,
não pela do tempo,
que este não se cura,
nem da dor,
que esta faz deixar de existir
aqueles que procuramos
ao encontrarmos.

115. Em crise (para Austregésilo Carrano Bueno)

Existe uma voz ausente, maldita!
Que não responde aos que nos libertam,
ou querem libertar.
Uma voz que não é dos poetas,
mas que quer poesia,
para falar de todos os assuntos
que o falaria, se o fosse,
sem apresentar os nomes,
se loucos ou não, somos pela diversidade.

Que loucura é essa de parar
de prestar atenção no mundo
e fazer arte?
É a loucura que funda o mundo!
e sabemos administrá-lo,
não precisamos de tutela,
mas de outros,
que, além de fazer arte,
se envolvam com a sujeira do mundo.

Alguma autoridade técnica,
a qual, por surgir despersonalizada,
não se lembram, chamou-me poeta,
não estou organizado para afirmar,
mas onde houver crise,
o que chamam de arte,
deverá estar lá.

114. Dias de clandestinidade

Hoje,
românticos são poucos,
românticos estão,
em aparelhos subterrâneos,
sob treinamento
em clandestinidade.
Românticos são tantos
e os centros de produção
são domesticadoras,
são da docilidade,
dos seus cadáveres.
Se estes mesmos românticos
não merecem
mais que um paredão
pelo que lutaram.
Provavelmente
por não conhecerem nada além.
Ou fuzilam ou morrem de amores
romântico tá tá; tá tá...
com os sussurros das metralhadoras.
Crêem que não são as balas
que atravessam os íntimos,
e fuzilam porque são românticos!
O erro, para eles,
representa a morte,
a política,
a produção de guerrilheiros.
Não entendem,
que errar é sinal de cumplicidade
com seu algoz necessário,
que num dia será romântico.
O que dizer quando
cada erro for capitalizado?
Neste ritmo, a morte, só em larga escala
e, a imortalidade, a presença do Nazismo.
Por fim, nada mais fugirá a banalização.
Que muito mais pessoas,
não românticas,
serão colocadas na clandestinidade,
que não haverá exílio pra tanta gente.

113. Por todos aqueles que roem

Alguém nos diz
que outro alguém que olha por nós
É nós mesmos,
Que está no meio de nós,
Mas existem muitos
que olham nossa comida,
nossa carne,
nossos pertences
e roem.
Eles não querem nossos templos,
não querem nosso ouro,
somente nossos ossos.
Não querem nossa devoção,
apenas serem livres de nossas armadilhas.
São melhores que qualquer deus
e piores que qualquer homem e,
por isso,
são os donos deste planeta.

São por todos aqueles que roem,
não vão deixar de roer uns aos outros,
e são por nós também.

111. Em tempo...

Será que existe
algum relógio
que aprendeu
a marcar com o tempo?
Não creio,
eles são espontâneos demais.
Repentinamente um segundo,
ou outro,
Portanto,
quem manda
nos relógios não é o tempo,
mas a ocasião.

108. Para um astro desconhecido

Se você for um astro desconhecido,
escolha um satélite,
para não se cegar
com o luzeiro do universo.

Se não puder, mude o ângulo,
deite-se,
e sozinha mesmo,
faça-se satélite.
Será possível não estar acompanhada?
Senão, escolha o Sol,
para as horas solares.

Poderiamos afirmar
que os dias e as noites
não teriam significado
sem a rotação?
Sim, poderiamos afirmar
que perdurariam os dias e as noites.

Como resultado,
das constantes medições,
Num momento
não está lá
e noutro
o objeto de nossa atenção
está
no meio do nada
nadificando tudo mais,
responsabilizando ora o ser,
ora o meio, por sua angústia.

A Lógica é a genética da preguiça de criar, e a criação precisa de intensidade sendo o exercício do impossível imediato, mas, às vezes, porque não sermos um pouco indolentes?

Não 'creio' na Lógica por causa dos Ateus. Os mais consistentes propagadores das leis de Deus.

Mesmo não sendo parnasiano...

“Fuja da abundância estéril desses autores, e não se sobrecarregue com um pormenor inútil. Tudo que dizemos a mais é insípido e degradável; o espírito saciado repele instantaneamente o excesso. Quem não sabe moderar-se jamais soube escrever.”

Nicolas Boileau-Despréaux
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