Na vidraça do mundo,
a luz, de fora, era tão intensa
que não havia nenhum reflexo
meu, precisei inventá-lo.
Desenhei com um caco
do chão que não existia.
Eu ali,
lispectorando,
este nome em ato, desagradável.
Tive de inventar uma palavra,
não por acaso, inventei duas ou três,
todas filhas legítimas,
tenho de me remeter
ao ato, com eu sentado
a máquina no colo,
o vento tilintando,
como se pudesse
de algum modo
entender,
o som do bater de asas onomapéicas
das pequenas borboletas amarelas,
que dominaram a cidade,
que dominaram minha escrita,
mais que as palavras,
eram como o ar que
como que num repente
transludecido
que escorria pelos vales,
ao olhar de uma ponta à outra
iam se desenhando
pela dimensão transparente
aos meus olhos,
eram mais que as folhas,
que esperaram o outono,
que chovia das núvens-copas,
das árvores minhas semelhantes, em tudo.
Quem foi que disse que
não há esta estação
nesta cidade quase
equatorial?
Sei que sim.
Sei que ela falava de Macabéa.
Então sentei na borda do mundo
e deixei este escarro catedrático
no canto,
bem no lugar onde
as paredes se reproduziam
num sexo estático e imperfeito,
mas o fiz, porque sei que
é deste local onde mais brota
a ausência de constrangimento
entre as idades.
96. Lispectoração (Para Clarice)
terça-feira, 7 de abril de 2009
4 comentários:
De:
é deste local onde mais brotam
as idades.
Para:
é deste local onde mais brota
a ausência de constrangimento
entre as idades.
De:
não por acaso, tenho de me remeter
Para:
não por acaso, inventei duas ou três,
tenho de me remeter
Acrescentei: este nome em ato, desagradável e todas filhas legítimas, Depois de começar a assistir a última entrevista de Clarice.
Acrescentei: Sei que ela falava de Macabéa.
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